
Infelizmente, é sabido que as mentiras, a
coação e a ameaça também são partes quase onipresentes, em uma sociedade, devendo ser incluido neste rol, as fakes news.
Embora
o debate sempre foi importante, atualmente, tanto o Brasil quanto o resto do
mundo, parece se ter chegado a um ponto em que existem dois ou mais grupos em que
o diálogo e a discussão racional é praticamente impossível, transparecendo serem guiadas pela máxima do “nós estamos sempre certos e eles estão sempre errados”.
Estes polos irreconciliáveis, conhecidos popularmente como polarização, muitas
vezes se infiltram nas mais diversas camadas sociais, e suas discussões afetam
seus integrantes até então iguais em virtude de suas opiniões e pontos de vista
diferentes, onde não raramente causam desgastes. Quem nunca perdeu um amigo ao
discutir coisas como filmes; jogos; comidas e muitas outras coisas (melhor nem
adentrar em um evento recente de “mata-amizade” e “quebra famílias” chamado
eleições de 2018 no Brasil...).
Em
tempos de debates, que levam a discussões cada vez mais acaloradas, não raro é
alguém chegar a pensar que o “mundo e sua vida” seriam melhores caso determinada
pessoa ou grupo nem existisse ou pudesse sumir.
Tendo
isso em mente, hoje veremos a história de quando este pensamento foi seguido à
risca, tudo em nome de uma suposta solução de um grande conflito interno que
dividiu muitas pessoas que afligiu uma república que se tornaria um dos maiores
impérios da história.
Roma,
nome que pertencia, à época, não apenas a uma cidade, mas sim a um Estado cujo
território estava espalhado pela Europa, Norte da África e Oriente Médio,
compondo o poder dominante do então conhecido ocidente, ainda estava
completamente desestabilizada após os eventos ocorridos em 15 de Março de 44
A.C, conhecidos popularmente como Idos de Março. O motivo? Caio Júlio
César, o general romano que havia sido nomeado ditador absoluto de Roma pelo
Senado após sua vitória na Segunda Guerra Civil, havia sido assassinado por integrantes
da classe alta romana, os autoproclamados libertadores, sendo estes liderados
por Marco Júnio Bruto, antigo amigo de César e inclusive favorecido por ele com
alguns cargos, e Caio Cássio Longino, mentor intelectual do assassinato. Tal
grupo jamais poderia imaginar as consequências desastrosas de suas ações.
Os
libertadores não tinham nenhum plano especifico para governar Roma após o
assassinato de César, e tudo o que os unia era o ódio dirigido ao ditador ao
qual viam como alguém igual a eles (no sentido de pertencer a classe alta da
republica) que os haviam dominado e os excluído do poder de Roma, além do que
em razão dos vários projetos que César havia feito para agradar a plebe (dentre
elas um grande programa de obras públicas para gerar empregos; proclamar
sistemas legais padrões para cidades italianas que antes não as tinham; ampliar
a cidadania a não romanos; etc) ele também acabou visto como um integrante
da classe alta que havia desertado para o lado “adversário” no eterno conflito
entre patrícios e plebeus que existia na República.
Ao
que parece, os assassinos de César simplesmente esperavam que o sistema político
tradicional da República seria retomado sem ações adicionais e sem mais
violência, bastando apenas matar o “tirano”. Tal visão mostra-se bastante
ingênua.
A Republica Romana estava decadente décadas
antes da ascensão de César, devido à grande concentração de pessoas
desempregadas na cidade de Roma, em razão da constante expansão da República ao
longo dos séculos que havia os tornado desnecessários para a economia romana.
Roma, após a conquista da maior parte do Norte da África, havia conseguido
acesso a grãos muito mais baratos e volumosos (oriundos do Egito) do que aqueles produzidos
anteriormente pelos agricultores romanos, o que acabou levando esses últimos
ao esquecimento e, posteriormente, a miséria. Esses agricultores que estavam
espalhados por toda a península, hoje considerada italiana, agora arruinados venderam suas
propriedades (o que contribuiu para os grandes latifúndios pertencentes a elite
de Roma que existiam na região nessa época) e se mudaram para a cidade de Roma,
onde esperavam conseguir empregos, e ao serem frustrados nesse aspecto,
converteram-se no que popularmente é conhecido como plebe (homens sem trabalho
e sem posses), que deveriam ser constantemente apaziguados pelo Senado a fim de
se evitar tumultos na cidade, que era o coração da civilização romana. César,
quando ditador, efetivou várias concessões e projetos destinados a plebe; essas
ações, embora certamente não desinteressada, foi o motivo que o converteu em herói
para essa classe social, que fez mais por ela do que diversos outros políticos
romanos ao longo dos séculos.
Para
além da plebe, outro motivo de decadência da república estava no fato de que a
figura do general romano havia se tornado muito maior do que a figura do Estado
romano, uma vez que era o general quem entregava os espólios da conquista e as
terras prometidas aos legionários quando concluído o tempo de serviço militar,
criando laços pessoais do general com sua legião.
Uma vez que a República Romana não possuía
nenhuma forma de compensação regular ou pensões para o ex-legionários, estes
tornavam-se reféns da generosidade do general ao qual estavam ligados ao se
realizar a divisão do espolio, fazendo com que sua vontade fosse bem mais
importante para os legionários do que a vontade do Senado, o que permitiu com que alguns generais de Roma pudessem
não-cumprir, ou até mesmo desafiar, as ordens da República. Foi devido a essa
situação que César pode com segurança iniciar uma guerra civil, pois estava
confiante que seus legionários e seus oficiais estariam com ele até o fim, sem
se importar em trair abertamente o Senado romano, expectativa está que, como
mostra a história, se concretizou.
Como
pode ser visto, a República Romana, cujos libertadores (leia-se:
assassinos de César) diziam restaurar, estava completamente corroída e instável,
sendo que já estava em condições de não-regresso ao que foi um dia. Para além
desses fatores político-sociais, outro grande erro do grupo liderado por Brutus
e Cássio foi ter negligenciado a figura dos herdeiros de César.
(CONTINUA NA PARTE II)
(CONTINUA NA PARTE II)
1 comentário
excelente abordagem histórica
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