A
medida que a internet foi deixando seu caráter exclusivamente militar e adentrando
na vida civil, ela causou uma revolução na forma em que as comunicações eram
repassadas, pois antes mídias como o rádio e a televisão apenas transmitiam
informações aos seus ouvintes/telespectadores sem dar a eles qualquer
participação (lógica comunicativa monológica), a internet e
(principalmente) as redes sociais permitiram que as pessoas que recebessem as
informações também fossem capazes de criar informações e enviá-las para outros,
constituindo uma lógica comunicativa dialógica: quem
recebe informações também pode emitir. Como se pode imaginar, não demorou muito
para a internet também ser utilizada para o campo político.
No
Brasil, a internet teve um desenvolvimento tardio quando comparado a outras
nações (seu uso fora das universidades, pela população em geral, só ocorreu a
partir da década de 90, quem é dá época deve se lembrar da lamentável internet
discada...). Para além desse desenvolvimento tardio, fatores estruturais
impediram seu uso de forma unanime: até 2017 menos de 70% da população estava
incluída digitalmente. O uso regional da internet variava bastante (até 20% de
diferença quando comparado entre o Sul/Sudeste e o Norte/Nordeste).
Inegável
a importância que a internet adquiriu para a sociedade brasileira, com a forma
majoritária por aparelhos celulares e o foco nas redes sociais (o Brasil tem
aproximadamente 130 milhões de usuários no Facebook, sendo o 30 País
com mais acessos no mundo).
Esse
acesso massivo também tem importância nas eleições, pois em 2018, o partido do
candidato a presidência eleito quase não tinha acesso a televisão e
praticamente não participou de debate nenhum, mas tinha uso massivo (e polêmico)
da internet e das redes sociais que o elegeram. Esse fato até iniciou um debate
se os meios de comunicação tradicionais (rádio e televisão) não estariam
perdendo sua importância para decidir as eleições, debate que ainda está longe
de acabar.
Com
a ascensão da internet, simplificou-se a difusão de informações, pois agora não
existia mais a possibilidade de um assunto não ser conhecido simplesmente
porque a mídia não quis se debruçar sobre ele.
Essa
simplificação resultou em questionamentos sobre as relações políticas atuais,
pois agora os cidadãos têm um maior acesso sobre o que seus representantes
estão fazendo, permitindo, tanto a pressão por parte da população, para que
certas decisões não sejam tomadas; quanto participarem sobre qual é a melhor
forma de seu representante eleito tomar as decisões que lhe cabe.
A
medida que mais estudos estavam sendo feitos para determinar qual seria o papel
central que a internet poderia desencadear na política, nasceram duas correntes
dedicadas a estudar o assunto: a primeira é conhecida pelo nome de Ciberotimista (a internet iria
desencadear profundas mudanças na forma em que a política é feita - com a
possibilidade, por exemplo, de canais de comunicação direta com os eleitores,
algo impensável em uma mídia de massa como a televisão, permitindo um maior
contato com um candidato de pequeno porte), o que provocaria uma verdadeira
revolução na prática democrática.
A
outra corrente, completamente oposta a primeira, é conhecida como Ciberpessimista. Para essa linha de
raciocínio, é irrelevante a abertura de novas plataformas de comunicação, pois
elas ainda iriam reproduzir as relações já existentes, pois em tese as pessoas
e instituições que gozem de maiores recursos financeiros tenderiam a se aproveitar
melhor dos recursos digitais do que os seus concorrentes, mantendo assim a
ordem já estabelecida.
Com
o passar do tempo, percebe-se que ambas correntes estavam certas em parte.
Embora a Internet não realizou uma revolução radical na forma em que a
democracia funciona (candidatos mais conhecidos ainda são mais votados do que
os menos conhecidos), é inegável sua influência tanto nas instituições
democráticas quanto nos atores políticos, sendo fundamental para decidir certos
pleitos mundo afora, para o bem e para o mal.
Os
partidos políticos foram muito afetados com a Internet. Já não eram as
“instituições” mais queridas da sociedade (na pesquisa do Ibope de 2018,
gozavam de apenas 16% de confiança da população), por serem, segunda a visão
popular, inúteis e fatores de corrupção. A divulgação massiva de escândalos de
lideranças partidárias, bem como o gesto de “fazer política” (dar cargos em
troca de apoio) ajudaram e muito a afogar ainda mais tais grupos no oceano da
desconfiança.
Com
o potencial trazidos pela Internet, os partidos políticos podem vir a se
reerguer da penumbra, retomando o contato e a confiança da sociedade civil por
meio da participação e articulação popular permitida pela internet.
Novamente
houve uma divisão entre essas perspectivas para os partidos políticos. Uma ala
(vamos chamá-la de iludida) acredita que eles irão absorver essas novas
dinâmicas digitais rapidamente, resultando em mudanças profundas em suas
estruturas internas bem como em suas disputas interpartidárias, uma vez que
haveria uma equalização dos recursos
digitais, que estariam menos sujeitos a hierarquia.
Outra
ala (vamos chamá-la de mensageiros de más notícias) afirma que os partidos
políticos continuariam a ser como sempre foram mesmo com a Internet, dando
continuidade as relações já feitas, uma vez que estariam “pregando aos
convertidos” dentro da Internet, não resultando em nenhuma mudança real em seu
funcionamento.
Para
além dessas alas, os recursos digitais possibilitaram para os Partidos
Políticos, dentre elas as campanhas de
iniciativa cidadã, permitindo aos militantes e simpatizantes de cada
partido conhecer verdadeiramente seus candidatos, interagir tanto com ele
quanto com outros simpatizantes e expressar suas opiniões e demandas, o que
resulta na mobilização partidária via plataforma, podendo-se enviar,
compartilhar conteúdo e construir a campanha nos ambientes online e off-line.
Essa modalidade de fazer o simpatizante trabalhar de graça para o partido
surgiu pela primeira vez com as Eleições na Grã-Bretanha em 2015.
Assim
como os partidos políticos, os parlamentares também se viram afetados de forma
negativa pela divulgação massiva de informações proporcionada pelas redes
sociais, seja em conta de declarações polêmicas de diversos representantes da
Câmara e do Senado seja pela denúncia constante de escândalos de corrupção.
Uma
vez que, no Brasil, o poder político sempre se valeu do personalismo do
candidato mais do que a força do Partido Político que está inserido, existe uma
grande necessidade da boa comunicação com a população, comunicação muitas vezes
atrapalhada, tanto pelas denúncias de improbidade, quanto pelo senso comum da
população de que nenhum político presta.
Porém,
a internet e as informações que vem com elas não são necessariamente inimigas
dos parlamentares. Usadas da maneira correta, a Internet pode propiciar um
contato rápido e direto com o eleitor, bem como ampliar a publicização das
ações do parlamentar para mostrar o seu trabalho, e por fim receber o feedback
dos eleitores e demais cidadãos de suas ações ao longo do mandato, de modo a
verificar se está fazendo um bom trabalho ou não.
Contudo,
o uso ineficaz da Internet apresenta grandes riscos, como: ocasionar a
deterioração da imagem do parlamentar por meio da divulgação de declarações
equivocadas e/ou polêmicas; bem como passar a imagem de falta de
profissionalismo.
A
maneira de se evitar que isso aconteça é realizando a interação na internet de
modo profissional:
*
evitado a utilização de perfis pessoais para a divulgação de informações;
*
planejar adequadamente sua estratégia comunicativa;
*
buscar assessoria para a feitura dos conteúdos de modo a se evitar postagem
direta feita pelo parlamentar, que pode levar a situações não referentes a
estratégia adotada;
*
evitar a presença “full-time” nas redes, pois daria a impressão de que não está
trabalhando em nada.
Por
Demetrius Silva Matos
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