Os
pobres cavaleiros do Templo de Salomão, mais conhecidos como cavaleiros
templários foram (e ainda são) uma das partes mais importantes da história
europeia medieval. O que começou como uma ordem monástica de nobres dedicados a
proteger as estradas e caminhos na Terra Santa acabou evoluindo para uma das
mais importantes organizações medievais.
Os
Templários foram pioneiros do sistema bancário (eles desenvolveram um sistema
onde os peregrinos, para não terem seus bens roubados a caminho da Terra Santa,
poderiam, mediante uma taxa, depositar seus bens em uma das sedes da ordem
espalhada pela Europa, onde receberiam um recibo para poder retirar bens de
mesmo valor, em qualquer outra sede da Europa ou da Terra Santa). Além disso,
foram grandes guerreiros e árduos defensores da cristandade.
A
história dos Templários é tão ampla e vasta que, muitas vezes, é difícil
separar a verdade da lenda (alguns dizem que as reservas de prata detidas pelos
Templários eram provenientes do continente americano, onde supostamente aqui
estavam muito antes dos demais europeus tomarem conhecimento da existência do
continente).
Porém,
nem mesmo todas essas qualidades foram o suficiente para manter sua função original
de garantir a segurança das rotas da Terra Santa, bem como da própria Terra
Santa em si. Com o passar dos séculos, mais e mais territórios cruzados foram
sendo perdidos no Oriente Médio,
até que finalmente em 1291 foi perdida a cidade de Acre,
que marcou o fim da presença ocidental naquelas terras por muitos séculos.
Desorientados
e perdidos, os Cavaleiros Templários viam-se em uma grave crise existencial:
qual é o sentido de haver uma Ordem dedicada a proteção das rotas da Terra
Santa, se não existia mais Terra Santa? Vendo-se nessa situação desalentadora,
os grão-mestres Templários faziam repetidos pedidos ao Papa para a feitura de
uma nova cruzada, e enquanto isso não fosse atendido, encontraram outras
“funções” na Europa: os Templários de origem aragonesa e portuguesa voltaram a
suas Terras natais para auxiliar seus compatriotas na luta contra os muçulmanos
na Península Ibérica (o qual só foram devidamente expulsos em 1492), enquanto
que os Templários de origem inglesa foram auxiliar seu Rei na luta contra os
rebeldes escoceses (que eram igualmente cristãos, mas isso não parecia importar
em uma cristandade – estados cristãos da Europa- que se odiava quase tanto
quanto odiava os judeus e os muçulmanos).
Os
Templários também estavam envolvidos na França (terra de origem de muitos de seus
cavaleiros), onde atuavam como banqueiros e financiadores do Rei Filipe IV (mais conhecido como Filipe, o Belo - uma das poucas vezes em que iremos ver um Rei
francês que não se chamava Luís ou Carlos). Assim, auxiliavam o Rei francês a obter generosos
empréstimos da própria ordem para honrar diversos compromissos econômicos do
monarca (entre eles, o dote de sua filha). Com essa medida, os Templários
esperavam cair nas graças do Rei francês, mas teve o efeito completamente
oposto: Filipe, admirado pela disposição constante da Ordem de Cavaleiros a fornecer
dinheiro constantemente, começou a cobiçar o “tesouro Templário”, e em sua mente astuta iniciou o plano que
levaria a dissolução da ordem, tanto para evitar pagar suas dívidas atuais com
os Cavaleiros, quanto se apropriar do dinheiro dos Templários.
Nessa empreitada, não bastava condenar Templários individualmente, já que esta medida não
anularia suas dividas com os Cavaleiros, bem como não permitira se apoderar do dinheiro
da Ordem. Era necessário que a Ordem fosse considerada inteiramente culpada, o
que tornaria mais fácil o processo para sua extinção. O único crime da época
punido com confisco de bens e propriedades era o de heresia, o que foi buscado
por Felipe para condenar a Ordem.
Embora
não houvesse nenhuma prova para levantar tais acusações, naquela época isso não
era um empecilho, pois em relação as acusações de heresia, sempre se podia
contar com a colaboração dos inquisidores da Igreja e suas “técnicas
especializadas” de obter confissões. Para além disso, ajudava o fato de todas
as reuniões dos Templários serem secretas, o que ajudava a “soltar a
imaginação” sobre as acusações.
Neste
plano completamente ganancioso, existia apenas um problema: a Ordem dos Cavaleiros Templários
respondiam a apenas uma única pessoa: o Papa,
pois a existência da Ordem era
fundada apenas na carta patente detida pela Igreja. E, as acusações de heresia,
obrigatoriamente, deveriam ser julgadas por Tribunais eclesiásticos. Logo, qualquer
acusação que Filipe planejasse lançar contra os Templários, deveria ter a
aprovação e apoio Papal. Tendo em conta essa situação, Felipe, valendo-se que o
Papa Bonifácio VIII havia morrido há pouco tempo e ainda não tinha um sucessor,
procurou diversos candidatos a Papa para auxiliar este a ascender de modo a
realizar o seu plano. Para sua sorte, encontrou um ganancioso arcebispo chamado
Bertrand de Gouth, que embora publicamente
criticava o rei francês devido às interferências anteriores de Felipe nos
dízimos arrecadados pelas igrejas francesas, compareceu a reuniões secretas com
este para fechar o acordo. Uma vez que os cardeais franceses não passavam de
marionetes de Filipe (pois suas propriedades e bens encontravam-se na França), Bertrand de Gouth foi eleito como Papa Clemente V, e prontamente começou
a conspirar para destruir a Ordem que tão fielmente havia servido a sua Igreja.
De
modo a tentar prever “empecilhos” em seu plano, o Rei francês realizou um
“ensaio”: por meio de ordens enviadas a todos os senescais da França
(cumpridores de ordens e leis, versão “primitiva” dos delegados), no dia 22 de
julho de 1306, todos os judeus da França, que tinham poucos defensores, foram
capturados e presos simultaneamente; seus bens e propriedades foram confiscados
pela coroa (sendo que todos os arquivos judaicos que continham dividas da coroa
foram destruídos) e então foram enviados ao exílio como indigentes. Vendo a
total apatia da sociedade francesa perante tais ordens cruéis e arbitrarias,
onde ninguém ousou sequer criticá-lo por isso, Filipe estava confiante que seu
plano seria um sucesso.
Foi
montado uma armadilha para que o Grão-Mestre Templário Jacques de Molay
comparecesse a França: no início de 1307, foi convocado pelo Papa a comparecer
na sede do papado em Poitiers (devido a problemas políticos posteriores a sua
eleição, Clemente V nunca chegou a colocar os pés em Roma), de modo a explicar
seu plano de uma nova cruzada, bem como de combater a ideia de alguns membros
da Igreja de combinar os Cavaleiros Templários com os Cavaleiros Hospitalários
(outra ordem religiosa militar) em uma única Ordem, ideia ao qual Jacques
de Molay detestava. O Grão-Mestre desembarcou em Marselha, com sua
guarda pessoal de 60 cavaleiros, seus escudeiros e servos bem como uma carga
contendo 150 mil florins de ouro (o que equivale a muito dinheiro para os
padrões da época), dirigindo-se para a sede Templária em Paris para depois se
encontrar com o Papa. Uma vez que a lagosta havia pisado na gaiola, não demorou
muito para que esta fosse fechada.
Em
setembro de 1307, ordens foram emitidas para todos os senescais da França de
modo a reunirem uma força militar para o dia 12 de outubro (na época anterior a
policia, as ordens dos senescais eram cumpridas tanto por soldados quanto por
cavaleiros seculares que estavam a sua disposição para exercer a autoridade do
Estado). As ordens eram absurdamente sigilosas, havendo uma grande punição para
qualquer senescal que abrisse o envelope com as ordens antes do prazo
estipulado. Enquanto isso, o chanceler de Filipe, De Nogaret, estava
cuidando da “logística” desta operação: garantiu que houvesse masmorras e
grilhões para milhares de homens em todos os 400 mil quilômetros que compunham
o Reino da França, bem como havia um exército de escribas para copiar as
acusações contra os Templários para
circularem pela França, de modo a tanto acalmar a população quanto angariar seu
apoio no dia fatídico.
Então,
na madrugada do dia 13 de Outubro de 1307, em uma sexta-feira (sendo está uma das
origens da sexta-feira 13 ser considerado o dia do azar), os senescais abriram
seus envelopes com as ordens de seu Rei, para lê-las aos cavaleiros e soldados
que aguardavam ansiosos qual seria uma ordem tão secreta assim. Havia a
preocupação de que alguns senescais, ou até mesmo cavaleiros, tivessem feito
amizade com Templários locais, e suspeitassem dessas ordens ou adiassem a ação
até que o comando fosse de fato confirmado, o que frustraria o plano de todos
serem presos simultaneamente para não haver uma objeção formal. Para contornar
essa situação, De Nogaret enviou junto com as ordens outra coisa impensável em
um mundo medieval: uma carta de
explanação, fundamentando a urgência da ordem e a necessidade de seu pronto
cumprimento.
Para
os leitores juristas, é sabido que uma decisão judicial sem fundamentação do
juiz é inválida, porém naquela época os Reis não costumavam explicar ou
justificar suas ordens (afinal o Rei governava pela vontade de Deus), portanto
uma carta de explanação vinda de um Rei junto com uma ordem foi algo
completamente chocante tanto para os senescais quanto para os soldados e
cavaleiros, sendo o suficiente para tornar verídico aquelas ordens tão
drásticas, que consistiam na prisão imediata de todos os Templários na França
sobre a acusação de heresia, bem como no confisco de todos os bens da Ordem
presente na França. Os Templários franceses agrilhoados foram enviados para
diversas masmorras, onde os inquisidores estavam aguardando por eles para
“obter a verdade dos fatos”. Era necessário que a tortura começasse de
imediato, para se obter as confissões necessárias a serem apresentadas ao Papa.
A
inquisição funcionava segundo uma lógica bastante questionável. Os inquisidores
acreditavam que a tortura era um método digno de se obter confissões, pois Deus
faria com que um inocente pudesse suportar qualquer quantidade de dor (me
pergunto se nenhum inquisidor pediu que seus colegas o torturassem, para ver se
Deus realmente o protegeria). A confissão extraída até pela mais hedionda das
torturas era dotada de validade, e se o acusado negasse a declaração
posteriormente, seria considerado um “herege
reincidente”, cuja única punição era a fogueira. Para piorar, o acusado não
tinha direito a saber quem o havia acusado, nem de quem havia testemunhado ou
fornecido evidencias contra ele. Para o azar dos Templários, estavam imersos em
um processo que seguia uma única regra: cara eu venço, coroa você perde.
Uma
vez que as primeiras “confissões” foram feitas, conforme o roteiro, no dia 22
de novembro de 1307, o Papa Clemente V promulgou a bula Pastoralis
preeminentae, que tratava Filipe IV como um verdadeiro filho da Igreja e
defensor da fé, reconhecendo a veracidade das acusações contra os Templários e
declarando que todos os Reis cristãos deveriam prender os Templários de seus
Estados de origem e torturá-los para que confessassem sua heresia.
Para
o desgosto do Rei Francês e do Papa, tal ordem só foi seguida a risca nos
Estados italianos. O Reino do Cipre havia informado ao Papa que os Templários
foram presos e julgados, porém sem o uso de tortura, sendo então declarados
inocentes; o Papa ficou furioso e ordenou que novos julgamentos fossem feitos
com o uso de tortura, ao qual não sabemos se foram realizados ou não. O Rei de
Portugal, bem como os monarcas de Aragão e Castela (os reinos que futuramente
formariam a Espanha) tinham profundas suspeitas da veracidade das acusações,
pois conheciam a ganancia de Filipe e suspeitavam de suas intenções, fora que
os Templários da Península Ibérica estavam lutando ao lado de seus exércitos
contra os reinos islâmicos que ainda existiam na região, logo não desejavam
perder aliados tão úteis. Na Inglaterra, o recém-coroado Rei Eduardo II, que tinha ótimas lembranças da lealdade dos
Templários ingleses para com seu pai no combate aos escoceses, havia decido
protegê-los, declarando inclusive que a tortura não fazia parte da
jurisprudência inglesa, logo não podendo ser utilizada (a resposta de Clemente
V foi enviar inquisidores a Inglaterra para instruir seu povo nesse “processo
sacro-penal”, embora todos os Templários ingleses tinham conseguido fugir antes
das torturas começarem). Quanto a Escócia, o Rei Robert Bruce estava
excomungado, e simplesmente jogou a ordem papal em uma gaveta no instante em
que a recebeu, sem sequer ler seu conteúdo. Por fim, o Sacro Império Romano
Germânico (Estado composto pelas atuais Alemanha; Polônia; Áustria e partes da
Hungria) já possuíam um longo histórico de divergências e atritos com diversos
Papas, e novamente fizeram-se de surdos aos apelos do vigário de Cristo na
Terra (esses atritos inclusive foram um dos motivos para os príncipes alemães
terem sido os pioneiros na adoção do cristianismo protestante dois séculos
depois, mas isso é história para outro dia).
Porém
as “confissões” realizadas na França e nos Estados italianos foram o suficiente
para originar matéria probatória. Sobre hediondas torturas, os Templários
confessavam que o ritual de iniciação da Ordem exigia o Osculum infame, ou beijo da vergolha, na boca, no umbigo e abaixo
da espinha do iniciador da cerimonia. Também que cuspiam, urinavam e pissavam
na cruz de Cristo, bem como adoravam uma cabeça de três faces como forma de
negar Cristo, dentre outras coisas ilógicas. O ponto mais baixo foi quando o
Grão-Mestre Jacques de Molay, um senhor de idade temeroso da horrenda tortura,
havia confessado que, em sua iniciação, havia negado Cristo três vezes; recebeu
ordens de cuspir em um crucifixo e que se mostrou emocionado à sugestão de
comportamento homossexual, sendo suas palavras como Grão-Mestre o suficiente
para incriminar toda a Ordem. Nas palavras de um tesoureiro Templarío: “sob tal
tortura, eu confessaria prontamente ter matado Deus!”.
O
papa Clemente V convocou um concílio na cidade de Vienne em 1310, a fim de
realizar o julgamento final dos Templários, sendo feita por uma comissão de
inquérito papal que se encontrava em Paris para sua elaboração. A comissão era
dirigida pelo arcebispo de Narbonne (um homem do Rei Filipe), que expressou sua
disposição em ouvir qualquer Templário disposto a defender a Ordem, deixando
claro que apenas seriam aceitas a defesa da Ordem como um todo, e não a de
Templários individuais. Em 20 de novembro, Jacques de Molay compareceu , negando
a veracidade das acusações contra a Ordem e suas confissões anteriores , bem
como afirmou que aquela comissão não tinha validade nenhuma, pois apenas o papa
em pessoa poderia julgar os Templários. O arcebispo perguntou se o Grão-Mestre
agiria como o defensor da Ordem, recebendo uma negativa deste, pois como homem
iletrado sem treinamento em leis ou em processo canônico, Jacques de Molay não se
considerava adequado para defender os Templários, desejando obter ajuda
profissional para isso.
Como
resposta, o arcebispo declarou que os Templários não poderiam contar com um
jurisconsulto externo (leia-se: advogado), pois em relação aos crimes de
heresia, o processo tradicional não precisava ser seguido, resultando na
impossibilidade de acesso ao seu dinheiro para contratar jurisconsulto externo.
Depois, leu as acusações contra os Templários, que iam desde a negação de
Cristo até a adoração de ídolos.
Com
a recusa do Grão-Mestre em defender a ordem, outros cavaleiros se apresentaram
como “advogados”, sendo o principal deles Pierre de Bolonha, que possuia
experiência nos assuntos clericais, que obteve no tempo em que atuou como
preceptor dos Templários em Roma, não necessitando de assistência externa para
fazer a defesa. Em sua defesa, De Bolonha alegou que provaria que
as acusações eram falsas e seriam comprovadas com testemunhos orais e escritos.
Deu o nome de muitos Templários que morreram em razão da tortura, bem como de
outros que foram subornados para confessar e de confissões que foram forjadas e
falsificadas. Também solicitou que os acusadores se apresentassem, pois onde
estavam estas pessoas que com tanta convicção havia acusado os Templários de
heresia?
No
dia 11 de abril de 1310, foram apresentadas as primeiras testemunhas. Todas elas
disseram que suas fontes baseavam-se apenas em rumores ou boatos, e aqueles
poucos que disseram que haviam visto as ações de heresia ou a adoração de
ídolos não conseguiram dar detalhes ou descrever como essa adoração era feita.
Quando os advogados da acusação (lembrando que não existia Ministério Público –
promotor de justiça como conhecemos hoje) apresentaram as confissões obtidas na
França e nos Estados Italianos como provas. De Bolonha solicitou que
elas fossem consideradas inadmissíveis em razão da tortura, solicitação que foi
indeferida; também solicitou que as testemunhas que ainda iriam se apresentar
ficassem em confinamentos separados, para evitar que se comunicassem ou
influenciassem uns aos outros, solicitação novamente indeferida.
O
julgamento estava ficando perigoso para Filipe. O arcebispo de Narbonne e
outros dois comissários eram servos leais dele, porém os outros quatro não
eram, e estavam suspeitando bastante dos relatos de tortura, suborno e traição
apresentados por De Bolonha. Afinal, se os Templários adoravam ídolos, porque
nenhum ídolo foi encontrado durante a prisão em massa? Isso estava preocupando
o Rei francês e seus conselheiros, e alguma ação drástica deveria ser feita.
Para
a sorte de Felipe, o arcebispo de Sens (responsável pelas cidades de Orléans;
Chartres; Meaux e Paris, onde estavam concentrados o grosso dos Templários
presos) tinha falecido, e em seu lugar, por meio de um novo acordo com Clemente
V, foi nomeado um homem chamado Philip de Marigny, bispo de Cambrai,
e irmão caçula de um dos sacerdotes mais leais de Filipe. O agora arcebispo
estava ansioso para mostrar sua gratidão ao Rei, que o havia beneficiado com
poder e fortuna automáticos com a nomeação, e não demorou em fazê-lo.
Dentre
outras funções, os arcebispos tinham autoridade total para lidar com hereges
individuais em seu território. Logo, Philip poderia fazer o que bem entendesse
com os Templários individuais presos nessas regiões, incluindo De
Bolonha e os outros defensores no concílio, bem como inúmeras
testemunhas dos Templários. Sendo assim convocou seus bispos em um concílio à
parte e declarou a culpa dos cavaleiros em seu território, bem como suas
sentenças.
Quando
De
Bolonha soube dessa intromissão processual grotesca, convocou os
comissários para uma reunião extraordinária em um domingo onde mostrou
preocupação com a inteferência que o concílio convocado pelo arcebispo de Sens
teria sobre as testemunhas Templárias. O arcebispo de Narbonne rapidamente
notou o estratagema desenvolvido por seu mestre, e seguiu o jogo. Após os
comissários terem se reunido, puderam expressar nada além de lamento pela
situação, e não poderia fazer nada para impedir que o arcebispo de Sens agisse
contra os defensores e testemunhas da Ordem, pois esta autoridade dos
arcebispos foi dada pelo próprio papa. No dia seguinte, quase todas as testemunhas
templárias alegadas por De Bolonha, incluindo o proprío
foram sentenciadas sumariamente pelo arcebispo de Sens como hereges, devendo
serem entregues às autoridades para serem queimados na foguera. De
Bolonha conseguiu escapar da masmorra de alguma forma, não se ouvindo
mais falar dele, porém as testemunhas foram queimadas, e as poucas que não
foram estavam em panico demais para falar qualquer coisa. Sem defensores ou
testemunhas, os Templários nada poderiam fazer em relação ao “julgamento” sendo
esta a sua desgraça final.
Em
1º de outubro de 1311, o Concilio de Vienne formalmente
condenou a Ordem Templária como herege, considerando todas as acusações como
verdadeiras, e posteriormente Clemente V formalizou a acusação dizendo que,
embora a Ordem Templária não estava oficialmente revogada, havia caído em uma
desgraça tão grande que ninguém mais iria nela se alistar, justificando sua
extinção (em um gesto de insegurança, deu outro comando alegando que qualquer
um que tentasse se alistar nos Templários seria automaticamente excomungado).
Os
Templários que se localizavam em Portugal e nos Estados Ibéricos foram salvos
por seus reis que havia criado uma nova ordem para que pudessem se alistar
(Ordem do Nosso Senhor Jesus Cristo e Ordem de Montesa, respectivamente). Os
Templários ingleses desapareceram como fumaça, nunca mais se ouvindo falar de
nenhum deles. Os poucos Templários fora dessas regiões se alistaram com seus
rivais, os Cavaleiros Hospitalários ou com os Cavaleiros Teutônicos (a ordem
militar de maior preponderância no Sacro Império Romano Germânico, que
posteriormente fundariam o Reino da Prússia, Estado antecessor da Alemanha
moderna).
Após
essa sentença, os demais Templários presos foram sentenciados a fogueira,
incluindo o Grão-Mestre Jacques de Molay, que estava em uma masmorra desde
que se recusou a defender a Ordem por ser iletrado. A execução final foi
marcada para o dia 18 de março de 1314. Conta-se que, pouco antes de ser
queimado junto aos outros Templários na presença do Rei Filipe e Clemente V,
Jacques de Molay voltou a defender a inocência de sua ordem perante o vil plano
de Filipe, e convocou ambos a comparecerem ao Tribunal de Deus ainda naquele
ano. Essa lenda ganhou força quando Clemente V faleceu subitamente em 20 de
abril de 1314, e o Rei Filipe morreu de convulsão em 29 de novembro de 1314,
cumprindo a maldição. Também conta-se que, muitos séculos depois, quando o Rei
Luís XVI foi guilhotinado durante a Revolução Francesa, um homem saltou em sua
plataforma, mergulhou suas mãos no sangue do Rei morto e o respingou na
multidão gritando: “Jacques de Molay,
estais vingado!”.
Texto de Autoria DEMETRIUS
SILVA MATOS
FONTE:
ROBISON.
John J. Os Cavaleiros Templários nas
cruzadas: prisão, fogo e espada. Madras, 2011.
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