EDUCAÇÃO DE VALORES: UM DESAFIO DO DIREITO EM BUSCA DA PROMOÇÃO DA IGUALDADE, DA CIDADANIA E DO RESPEITO À DIFERENÇA NA FORMAÇÃO ÉTICA DOS INDIVÍDUOS.
O enfrentamento a corrupção, além das medidas preventivas e operacionais dos diversos atores, como Ministério Público, Controladoria Geral da União, polícias, tribunais de contas passa pelas estratégias para o combate a corrupção primária. O ACONTECE NO BRASIL traz hoje a experiência exitosa desenvolvida em Rio Verde/GO, pela Promotora de Justiça, Renata Dantas, EDUCAÇÃO DE VALORES, tema da live no instagram @construindo_cidadania. Vamos conhecer:
"Ao iniciar minhas atividades, em 2011, na titularidade da 4ª Promotoria de Justiça de Rio Verde/GO, que tem por atribuição a Defesa do Patrimônio Público e o Combate à Corrupção, uma das questões que passou a me afligir foi a expectativa de tentar fazer algo que trouxesse um resultado, ainda que a médio ou longo prazo, na diminuição dos casos de corrupção.
"Ao iniciar minhas atividades, em 2011, na titularidade da 4ª Promotoria de Justiça de Rio Verde/GO, que tem por atribuição a Defesa do Patrimônio Público e o Combate à Corrupção, uma das questões que passou a me afligir foi a expectativa de tentar fazer algo que trouxesse um resultado, ainda que a médio ou longo prazo, na diminuição dos casos de corrupção.

O
objetivo do projeto é não apenas instruir as crianças, mas assim permitir que
sejam multiplicadoras, ou seja, que possam atuar junto a suas famílias e seus
amigos e com quem forem se relacionar, demonstrando e exigindo destas pessoas
um comportamento mais ético.
A
educação viabiliza troca de informações, interação e, o mais importante, ela
promove a apropriação de todo e qualquer tipo de conhecimento. Em razão disto,
trabalhar a cidadania como uma forma de resgatar e/ou proteger uma sociedade
pode transformá-la! Para tanto, o resgate da identidade cultural é uma tarefa
que deve ser executada continuamente.
Daí o nosso projeto busca trabalhar em conjunto com os professores dos 6º anos,
entremeando em todas as disciplinas noções de cidadania e ética, na intenção de
mostrar para as crianças que a
integridade tem o poder de interromper o ciclo.
Os
valores morais, como ensina a psicologia, são construídos a partir da interação
da criança com os diversos ambientes sociais e será durante a convivência
diária, principalmente com o adulto, que ela construirá seus valores,
princípios e normas morais.
O
projeto firma-se, como dito, no reforço positivo de comportamentos adequados,
permitindo que as crianças assimilem com naturalidade os conceitos de valores,
de ética e de cidadania, exatamente em razão do que a Psicologia nos ensina,
que os valores morais são construídos a partir da interação do sujeito com os
diversos ambientes sociais e se processa durante as experiências diárias.
Assim,
o projeto tem por público-alvo crianças de 10 a 12 anos e que estejam
frequentando regularmente o 6º ano da 2ª Fase do Ensino Fundamental, pois é a
partir do 6º ano que se inicia a análise mais crítica no processo educacional,
abandonando-se a abordagem lúdica e generalista, para se partir para uma
análise, como se disse, mais crítica e abstrata, em todas as disciplinas
abordadas. Ademais, a Psicologia ensina que é a partir dos 9/10 anos que a criança
passa a desenvolver a moral, alicerçada no respeito e compreensão das regras;
ou seja, o raciocínio moral está relacionado com o desenvolvimento cognitivo e
com a idade, tomando-se a moralidade como um conjunto de princípios ou ideais
que auxiliam o sujeito a distinguir o que é certo e o que é errado e, por fim,
agir em conformidade com esse raciocínio.
A
esse respeito, Piaget desenvolveu a teoria de que as crianças, a depender da
idade biológica, apresentam diferenças formas de apreender e respeitar regras,
passando pela fase de heteronímia e autonomia moral. Na primeira fase, a
criança obedece a regras de uma autoridade superior. Essas regras são imutáveis
e sagradas e quando ocorrem infrações há punições e castigos. Nesta fase, a
criança não tem em conta a intencionalidade da ação. Já na segunda fase, de
autonomia moral, o raciocínio do sujeito apoia-se no respeito mútuo e na
decisão acerca do ato (certo ou errado) e já tem em conta a intencionalidade da
ação.
Portanto,
tem-se que a faixa-etária ideal para trabalharmos o reforço positivo acerca do
comportamento correto e ético é exatamente a partir dos 10 anos de idade e que
a melhor forma de alcançar esse público é a partir do ambiente escolar. E como
o que se propõe é permitir à criança, na fase inicial em que desenvolve o senso
crítico, a construção de valores pautados na ética por meio do reforço positivo
de comportamentos adequados, ressai evidente que o ambiente mais adequado é a
escola, a segunda instituição, após a família, que tem esse dever e essa
possibilidade, de construção de valores.
No ano de 2018, implementamos um projeto-piloto,
alcançando 12 escolas (sendo cinco municipais e sete estaduais), sendo certo
que, diante da grande aceitação e dos resultados animadoras, no ano de 2019
conseguimos trabalhar com todas as 32 escolas públicas municipais e estaduais
de Rio Verde que possuíam turmas de 6º ano (incluindo as escolas da zona rural
e dos Distritos de Lagoa do Bauzinho, Ouroana e Riverlândia).
O projeto contempla três aulas, ministradas durante o ano
letivo. A primeira aula trata do tema ‘SOLIDARIEDADE, EMPATIA e RESPEITO À
DIFERENÇA’. Ao final da aula, é feito um
desafio aos alunos, com o objetivo de envolvê-los mais na temática e de
permitir a eles pôr em prática o que aprenderam: cada aluno deveria ajudar ao
menos três pessoas. Esse desafio embasou-se no filme “Corrente do Bem”, lançado
em 2000, que retrata a história de um professor de Estudos Sociais do 7º ano
que em seu primeiro dia de aula faz um desafio aos alunos: desenvolver um trabalho
com o objetivo de mudar o mundo. Durante a aula é apresentado aos alunos um
trecho desse filme.
Na oportunidade, também é entregue aos
professores do 6º ano material, mais precisamente uma mídia, contendo textos, vídeos, músicas,
exemplo de dinâmicas e atividades a serem desenvolvidas em cada disciplina,
reforçando o tema tratado.
O segundo conteúdo ministrado
tratou do tema ‘ÉTICA NA ESCOLA E NAS RELAÇÕES INTERPESSOAIS’. Após a
ministração desse conteúdo, assim
como fizemos no primeiro momento, ao final da aula é deixado um desafio aos
alunos, com o objetivo de envolvê-los mais na temática e permitir a eles pôr em
prática o que aprenderam.
Em 2018, o desafio foi: cada sala deveria elaborar um
Código de Ética. Seria um trabalho em grupo, em que cada turma apresentaria um
texto, no qual descreveriam as condutas certas e erradas dos alunos e
professores na sala de aula e na escola. O trabalho foi apresentado quando da
ministração do terceiro e último conteúdo e, após, fizemos um levantamento das
propostas apresentadas pelos alunos de cada escola e encaminhamos à respectiva
Direção, para que pudesse analisar a possibilidade de serem incluídas dentro do
código de ética da instituição.
Em 2019, mudamos o desafio: cada sala deveria elaborar uma
campanha de incentivo a condutas éticas no ambiente escolar, o que poderia ser
feito por meio de cartazes, dinâmicas, filmes, músicas, texto jornalístico,
poesia, redação, etc. O resultado foi apresentado quando da ministração do
terceiro e último conteúdo e, após, escolhemos os melhores trabalhos, que foram
disponibilizados para a Secretaria Municipal de Educação de Rio Verde e para a
Subsecretaria Regional de Educação, para serem divulgados e replicados nas
escolas, além de os trabalhos selecionados serem divulgado no sítio oficial do
Ministério Público do Estado de Goiás e expostos na sede das Promotorias de Rio
Verde.
Importante registrar que, quando da ministração desse segundo
conteúdo, da mesma forma foi entregue aos professores do 6º ano uma mídia,
contendo textos, vídeos, músicas, exemplo de dinâmicas e atividades a serem
desenvolvidas em cada disciplina, reforçando o tema tratado.
O terceiro e último conteúdo ministrado trata do
tema 'Corrupção' e se desenvolve seguindo a mesma sistemática das aulas
anteriores. Entretanto, nessa oportunidade, além de abrirmos a oportunidade
para a apresentação dos trabalhados feitos (desafio apresentado quando da
ministração da segunda aula), é apresentado o filme A FÁBULA DA CORRUPÇÃO,
desenvolvido pela Controladoria Geral da União e a aula se desenvolve com um
debate aberto com os alunos, buscando fazer a aplicação da fábula à nossa
realidade.
O projeto, segundo a própria comunidade escolar,
trouxe resultados visíveis animadores na melhora do comportamento dos alunos e
dos professores e pudemos verificar
que os educadores se preocupam com a formação ética dos educandos e que estes,
por sua vez, são conscientes da
necessidade de respeitarem o próximo.
Isso apenas confirma que a construção de valores
humanos no cotidiano escolar reflete uma prática pedagógica que deve ser
estabelecida de modo contínuo pelos envolvidos neste processo, até mesmo porque
a escola é, por natureza, uma instituição impregnada de virtudes intelectuais
que auxilia na proliferação de virtudes e caráter.
Por Renata Dantas de Morais e Macedo, Promotora de Justiça do MPGO, Idealizadora do Projeto "Educação de Valores".
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