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O
POST I da série INOVAÇÃO E SETOR PÚBLICO, aborda a INOVAÇÃO NA EDUCAÇÃO PÚBLICA: análise
teórica e prática de sua implementação. Valendo lembrar que a educação, é a
base de formação de uma sociedade, após o primeiro ciclo social do ser humano
formado pelas famílias.
Num
país de dimensões continentais, o Brasil enfrenta realidades educacionais
diversas do Oiapoque ao Chuí, passando pelos níveis diferentes entre ensino público
e ensino privado. E mesmo no ensino público,
diferenças entre escolas que estejam por exemplo em zona de influência do tráfico
de drogas, experiência esta vivenciada em algumas cidades como o Rio de
Janeiro. Já outras, como as cidades do Amazonas, dificuldades de acesso as
escolas, e ao meio digital.
O
analfabetismo, seja o próprio ou mesmo o funcional que ainda não foi erradicado
do Brasil, começa agora a enfrentar sua nova modalidade: analfabetismo digital,
competindo as escolas universalizarem também esse novo conhecimento, para
docentes e discentes, sobre pena de exclusão em curto prazo, dos processos de
participação social efetiva, e mesmo de vida pessoal, social, influenciando nos
destinos sociais.
O
post traz uma nova reflexão do professor Marcus Krause, com experiência de 10
anos na docência, ao lado dos 20 anos como técnico ministerial no Ministério
Público do Estado do Maranhão, e presidente da Associação “Toda Criança Feliz”,
no município de Pedreiras no Maranhão, faz o convite para uma reflexão sobre o
tema. Vamos lá:
Somos desafiados diariamente a viver situações novas em nossas
vidas, ora, os recursos que lidamos em nossos lares e ambiente profissional
possuem uma determinada capacidade, ora nos obrigam a substituí-los ou nos
qualificar para operá-los. O mundo não para, as terminologias mudam
constantemente, os recursos se renovam e as tecnologias avançam num piscar de
olhos. Diante deste processo globalizado, o homem precisa reinventar-se a cada
dia e encarar essas inovações como uma forma de descobrir novos caminhos e
novos conhecimentos, sendo um agente transformador de sua realidade social.
Como seres humanos, dotados de capacidade de desenvolver conhecimento, devemos
estar sempre prontos para encarar desafios e buscar novos aprendizados.
Ao observamos a história da humanidade, por uma linha do tempo,
desde o período Paleolítico, até o período Contemporâneo, podemos perceber o
quanto a humanidade evoluiu no processo de conhecimento e aprendizado. Da pedra
lascada, onde o homem talhava pedras, para confeccionar suas ferramentas de uso
doméstico, ao desenvolvimento da Tecnologia da Informação, onde as ferramentas
são desenvolvidas por meio de computadores e tecnologias similares, percebe-se
que a inovação, em cada processo, fez a diferença para melhorar nossas relações
de vida humana.
Assim, considerando-se essa característica típica do
desenvolvimento humano, precisamos canalizar todos os esforços necessários para
fortalecer o processo de Educação, meio pelo qual todos nós desenvolvemos
habilidades e conhecimentos.
Por muito tempo o processo de educação foi centrado em um
formato onde o aluno era apenas um receptor passivo, com obrigação de decorar
todo o conteúdo proposto, sem contribuir ou participar neste processo, nem
mesmo nos processos de elaboração das políticas públicas educacionais os alunos
tinham oportunidade de contribuir.
Graças a muitas teorias inovadoras, no decorrer do tempo, foram
surgindo novas perspectivas, novos pensamentos e novos rumos no processo
ensino-aprendizagem. Contribuições dadas por Paulo Freire, Maria Montessori (clique aqui) Jean Piaget, John Dewey, dentre tantos outros que defendiam essas práticas e
teorias pedagógicas inovadoras, contrapondo-se aos tradicionais métodos, que
tinha o aluno apenas como um sujeito passivo.
Trazendo este contexto, mais especificamente para a educação
pública em nosso país, podemos perceber a necessidade urgente de quebra de
paradigmas, não apenas na relação professor/aluno, mas em todo o sistema, a
começar pela construção inovadora dessas políticas.
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Por estar na ponta deste processo, os professores são os mais
cobrados, exigindo-se dos mesmos a adoção de práticas inovadores em sala de
aula, criatividade, etc, contudo ao olharmos para cima, de onde nascem as
políticas educacionais, percebemos uma lacuna muito grande, que também precisa
ser preenchida. Para haver eficácia na construção deste processo é preciso um
conjunto de ações e práticas advindas de todos que fazem a educação, e aqui
incluímos a participação da família,
instituição de grande importância neste processo.
QUANDO
FALAMOS EM INOVAÇÃO NA EDUCAÇÃO PÚBLICA estamos
focando aspectos diversos e que envolvem inúmeros atores, não apenas os
docentes. É comum, digo isso com tristeza, as pessoas nutrirem a ideia de que
ensino público no Brasil é precário, é deficiente, é desvalorizado, sendo isso
de fácil percepção, pelas estatísticas e levantamentos constantes de dados que
retratam uma realidade que precisa ser mudada.
Não queremos de forma nenhuma generalizar, pois sabemos que
existem escolas públicas de referência em nosso país, que possuem aspectos
inovadores em seu processo de gestão, de práticas de ensino, de mediação de
conflitos, de elaboração dos currículos, de fomento ao protagonismo
infanto-juvenil, mas na contramão desta realidade, existe um número
considerável de escolas que encontra dificuldades para implementar processos
inovadores, por medo de encarar novos desafios, pela inércia de quem opera o
sistema educacional, pela corrupção, que consome todos os recursos disponíveis
para investimentos em processos inovadores ou mesmo pela incapacidade técnica
de muitos gestores. Primeiramente precisamos vencer esses inimigos que impedem
que tenhamos uma educação pública inovadora, neste ponto fica a indagação: Como
fazer isso? Não é fácil encontrar a resposta para este questionamento, não está
em um passe de mágica, mas pode estar nas mãos de cada um de nós.
Trazendo para a prática, alguns exemplos no contexto nacional,
podemos citar muitas escolas com estruturas que dificultam implementações de
processos inovadores, obrigando os profissionais a se desdobrarem na tentativa
de mitigar essa cultura de que a educação pública é inferior ao sistema
privado. Muitos destes esforços podem até parecer em vão, mas servem de exemplo
e motivação para acreditarmos que podemos construir novos rumos, mesmo em meio
às dificuldades da realidade brasileira.
Os professores, gestores escolares e supervisores, de algumas
escolas públicas no Brasil, cônscios do poder transformador que o uso de
práticas inovadoras traz para o processo ensino-aprendizagem, se empenham ao
máximo para implementarem esses procedimentos, em meio aos parcos recursos ou
condições de estrutura física, que nada favorecem, tais como: escolas que não
dispõem de recursos áudio visual, ausência de laboratórios de ciência e
tecnologia, espaços para práticas esportivas e culturais, como método auxiliar
e poucos recursos didáticos pedagógicos à disposição.
Não podemos conceber que o processo ensino-aprendizagem se
resuma apenas aos 50 minutos que o professor passa em sala de aula, apenas
“despejando” informações e exigindo que essas informações sejam decoradas pelos
alunos. Paulo Freire, ao apresentar seu método inovador de alfabetização de
adultos, quebrou com muitos conceitos e preconceitos da sua época e foi capaz
de mostrar que a experiência de vida dos alunos pode servir de propulsão para o
aprendizado.
Para a construção desse processo, é preciso também haver a
democratização das ações de todo o sistema público educacional, ver e investir
no aluno, transformando-o de ser passivo a protagonista de sua história, neste
aspecto, fazemos uso da teoria Montessoriana, baseada no princípio da
autoeducação.
Essa democratização também deve ser adotada nos processos de
gestão escolar, gerando oportunidades de participação na construção das
políticas e planos educacionais, tais como projetos que oportunizem os alunos a
participarem dos processos de escolha de seus gestores, fomentar o exercício de
liderança, através de grupos de mediação de conflitos escolares, núcleos de combate
aos problemas relacionados ao uso abusivo e nocivo das drogas e outros
problemas que afetam o ambiente escolar.
A implementação de práticas inovadoras no ambiente escolar
também deve ser observada pelo aspecto inclusivo, de modo a não deixar de fora
do processo escolar pessoas com deficiência, transtornos globais do
desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação. É preciso haver empatia
para com todos aqueles que estão na escola, oportunizando condições na
proporção do desenvolvimento de suas capacidades.
Outro fator que pode ser de extrema importância é a formação
continuada dos profissionais da educação. A formação permanente dos professores
é uma das alternativas a se buscar uma educação pública inovadora, considerando
que as terminologias, conceitos e legislações pertinentes à educação, estão em
constante evolução. Não há como pensar em uma educação inovadora se os
profissionais da educação não tem acesso continuo a capacitações e
qualificações necessárias para ampliar sua visão à cerca dos métodos e práticas
que devem abordar em sala de aula. É preciso, também, quebrar com preconceitos
de que o novo poderá ser prejudicial, isso faz com que permaneçamos parados no
tempo.
Por último, não se pode descartar o uso de recursos tecnológicos
em favor da educação, promovendo a interatividade, de modo a aliar ao processo
ensino-aprendizagem, o uso do computador e recursos tecnológicos
disponíveis. Muitas escolas fazem uso de
aplicativos e tecnologias diversas que contribuem para o acompanhamento do
rendimento escolar, que auxiliam no processo administrativo e didático dos
profissionais da educação, que são ferramentas de coletas de dados e são aliados do sistema de ensino no
desenvolvimento de habilidades e competências, uma vez que vivemos em um mundo
globalizado e cada vez mais conectado às novas tecnologias.
Conclui-se que existe um abismo muito grande entre os conceitos
e práticas inovadoras e a realidade que vivemos em nosso país, não podemos,
portanto, ter receios em inovar, devemos acreditar que podemos construir novos
rumos na educação pública, sendo proativos, críticos e abertos às novas
tendências que venham a somar ao desenvolvimento cognitivo dos alunos e trazer
benefícios à todos que fazem parte deste contexto educacional, de modo a
transformar nossa realidade social, tão carente destas transformações,
acreditando nas palavras de Nelson Mandela: “A educação é a arma mais poderosa que você pode usar para mudar o mundo.”
MARCUS PERIKS BARBOSA KRAUSE
Mestre em Ciências da Educação; Especialista em Língua
Portuguesa com ênfase em gramática; Especialista em Gestão e governança em
Ministério Público, Licenciado em Letras, Graduando em Pedagogia.
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